quarta-feira, 29 de setembro de 2010

EU FIZ UM GOL (Arnoldo Pimentel)


EU FIZ UM GOL
Autor: Arnoldo Pimentel (http://ventosnaprimavera.blogspot.com)



Houve um tempo que me dediquei ao futebol, como técnico e também como diretor de escolinha para garotos até 14 anos. No ano de 2001, eu e um amigo professor iniciamos um projeto para ensinar futebol e cidadania para garotos entre doze e quatorze anos, no começo eram 12 garotos e no final em 2006, quando deixamos o projeto com outros amigos, tínhamos cinquenta e oito garotos entre sete e quatorze anos. O professor ficava basicamente com a parte de campo e eu com a organização e um pouco de campo, e todo fim de semana tínhamos treinamento e também partidas amistosas com outros projetos. A parceria entre eu e o professor sempre deu certo, apesar termos visões diferentes em algumas coisas, como o tratamento aos garotos, ele era totalmente profissional, não se envolvendo em nada a não ser ensinar a prática do esporte e cidadania, enquanto eu me envolvia muito com os garotos, procurando saber junto às famílias sobre estudo e comportamento, com isso eles tinham em mim um amigo de todas as horas, e acho que por isso minha parceria com o professor sempre deu certo, pois além de amigos, nos entendíamos perfeitamente dentro do que fazíamos, apesar de opiniões diferentes em alguns pontos.
Todo sábado e domingo eu saia de casa com o material, bolas, uniformes, e alguns garotos me acompanhavam, pois residiam por ali, e foi num desses dias que vi na esquina um garoto pequeno, bem pequeno, uma chuteira na mão e um sorriso no rosto e me perguntou se poderia ir, respondi que sim, mas precisaria de uma autorização do responsável, no caso dele o pai, por escrito e assinada e assim ele entrou para o time. Quando chegamos ao clube, os outros garotos logo o chamaram de Romarinho, talvez por ser baixinho, mas assim passou a ser conhecido no projeto. Todas as categorias eram divididas por idade, e Romarinho ficou na categoria dele. Todo fim de semana, quando eu saia de casa por volta das seis da manhã para ir à padaria, lá estava Romarinho, sentado na calçada de sua casa com a chuteira na mão, eu falava que estava cedo, ele falava que já estava pronto e que iria fazer um gol, seu sonho era fazer um gol para o pai ver, mas o pai de Romarinho trabalhava todo fim de semana e não podia ir, mas ele sempre falava hoje vou fazer um gol pro meu pai ver, o pai não ia e o gol também não saia. Como Romarinho era menor e menos experiente, geralmente ficava na reserva, mas sempre entrava, corria, brigava, chutava, mas o gol não saia. Um dia quando eu passava pela rua para ir a padaria pelas seis da manhã e vi Romarinho sentado na calçada de sua casa, senti algo no coração, acho até hoje que foi um toque de Deus, e pensei hoje é o dia, alguma coisa me falava que naquele dia o gol sairia, o gol tão esperado, o gol tão sonhado, tão acreditado. Esperei o pai do garoto sair para o trabalho e fui falar com ele, pedi para ir no jogo, era importante pro menino, e seria na parte da tarde, as 15 horas, era festa de aniversário do projeto e teríamos um projeto amigo convidado, ele falou que tentaria ir. O jogo começou às 15 horas e o pai do Romarinho ainda não havia chegado, mas do campo, no banco de reservas ele olhava todo momento para a arquibancada, esperando ver o pai ali, torcendo por ele, acabou o primeiro tempo, descanso, menino impaciente, com os olhos procurando seu pai, o segundo tempo começou e ele entrou em campo, o jogo corria e lá pela metade do segundo tempo, o pai de do menino entrou no clube, sentou-se na arquibancada e ficou torcendo pelo filho, que do campo o viu na torcida, nessa hora ele começou dar mais ainda de si, as gotas de suor escorriam pelo corpo, tanto que antes do final estava cansado, o professor olhou pra mim e falou que iria substituir o Romarinho, então lhe pedi pela primeira vez, pois o professor tem a responsabilidade, autonomia, e eu jamais interferia no seu trabalho de campo, mas falei com ele, deixe o Romarinho e assim foi feito, o menino ficou em campo. Quando faltavam uns cinco minutos para o final, houve uma roubada de bola no meio do campo, e esta foi passada para o Mateus, ele tinha dois adversários pela frente, poderia passar por eles em direção ao gol, tinha plenas condições disso, mas jogou para a direita e levou até o fundo, lançou para o meio, a bola veio cortando a área, pernas tentando alcançar, em vão, o goleiro mergulhou esticando as mãos, mas não alcançou, foram quando o menino franzino veio correndo pela esquerda, o nome dele, Romarinho, estava ali a sua frente o gol esperado, sonhado, perseguido, o pai levantou-se na arquibancada, pescoços se esticaram, mãos acenaram, todos torcendo, uns contra, outros a favor, e a bola sorrateira como ela, cortava a grama em direção aos pés de Romarinho, ele chegou chutando, naquele momento, houve um silêncio, a bola viajou em direção ao gol, cortando o vento, cortando o tempo, o vácuo entre a alegria e a tristeza, segundos de incerteza, Romarinho olhando com os olhos arregalados e mãos cerradas, e então a bola balançou as redes, finalmente o gol, perseguido, sonhado, tudo parou, a única imagem que existia era a do garoto franzino correndo para as grades, agarrando-se nas grades, subindo pelas grades como se fosse alcançar o céu, gritando para o pai, eu fiz um gol, eu fiz um gol, eu fiz um gol.

domingo, 26 de setembro de 2010

Sua vez!

Chegou sua vez, agora sei que chegou,
Você terá todas as oportunidades que tive,
De ouvir tudo que você me falou, não é difícil plantar,
Difícil é colher o que plantou.

Mas tinha que ser por mim,
Desse coração que você magoou,
Que eu já não o sentia no meu peito,
Pelo tanto que você o maltratou.

Suas palavras, seu desprezo, tudo isso doeu demais,
Como se não bastasse às vezes que me pisastes,
Ainda levava minha paz.

Mas chegou sua vez e, sua presença, sua ausência,
Ah, isso não me importa mais, sua voz, seu silêncio, tanto faz!
No lugar que um dia era só seu hoje não te cabe mais.

É bem melhor assim, hoje vejo com clareza,
Sem lágrimas, sem tristeza que você nem aproxima,
Do que Deus tem para mim.

Não sei como se sente agora, que em mim tudo acabou,
Nem amor, nem amizade, em mim nada mais restou,
Mas, para teu bem eu te digo, observe em quem tu pisas,

A colheita só começou...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Vento da mudança













Sinto o vento da mudança em meu rosto,
uma troca de pele fora de tempo,
sendo o vento a trazer o perfume desconhecido,
tornando as águas dentro de mim em lamento.

Como se eu pudesse controlar as estações,
misturo lugar e tempo, algo que não entendo...
acima do alcance da minha mente, da minha visão
mas que faz pulsar vorazmente meu coração.

Inquietude vã, pois o vento sopra onde quer,
e eu só diminuo a força do lume,
(querendo na verdade extingui-lo), move o meu
ser em discórdia com tempo, não remo contra a maré.

Aceito de bom grado a solidão... Novamente (!)
companheira e amiga da minha fé
dou a carta de alforria ao amor, porém, tristemente.

Peço que vá, é livre! leve seu amor e não lamente,
vives-te em mim o tempo necessário,
para não ser esquecido, infelizmente.

Deixe o frescor deste vento que me muda,
amadurecer dentro de mim a sua ausência,
sem lágrimas nem retorno... E sem clemência.


sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Minha Esperança...


O que importa se em Ti está minha fé
...Nada importa!
 Pois em Ti está minha esperança
Ainda que me digam: não, não tem mais jeito...
Ainda que me torturem, e esmague meu peito
Continuarei afirmando: Tu és meu Deus!
E com alegria seguirei te louvando
Ainda que, caminhando contra o vento,
Eu caia e morra ao relento,

E minha carne seja dividida

Entre as feras do campo,
E de mim nada mais restar,
Minha fé me conduzirá ao céu,
E Contigo para sempre irei morar,
Mas quando minha sorte for mudada,
E pelo Senhor eu for agraciada,
Meus lábios mais O louvarão,
Feliz então eu serei, por poder dizer,
Ao meu Rei:
Minha fé não foi em vão!



quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Vulto


Eu, que fui à vida uma sonhadora,
Desfiz meus Sonhos ao ver seus,
Olhos pairados em outro Mundo.


Eu que sufoquei minha solidão,
Sonhando preencher meus dias ao seu lado,
Vi seus pés galgando outra estrada,
Passo a passo até afastar-se completamente de mim,


Eu que tantas vezes tentei cruzar seu caminho,
Mas você sempre encontrou um atalho,
Para não encontrar-se comigo,
Para não sentir pesados os meus olhos em seus olhos,
Ou minhas mãos em suas mãos.


Eu que tentei ser alguém em sua vida,
Fui apenas uma sombra, um vulto na solidão,
Tu foste tudo para mim, e me fizeste nada para você.


Algum dia quando o sol brilhar mais forte em seu caminho,
O meu vulto se tornará real em sua frente,
E não haverá atalho para você.


Porque o meu caminho começará,
Aonde o seu terminar,
E então o vulto será você.

Solene Carvalho

domingo, 12 de setembro de 2010

Desprotegida




Bem cedo, antes mesmo que o sol despontasse no horizonte,
Me pus a pensar no tempo, na vida que segue de agora em diante...
No tempo em que a tristeza decorre do meu desânimo,
Tornando-se assim num tempo oportuno...


... Oportuno para a chuva,
Tempo de ar pesado,
De nuvens escuras,
Tempo de ter cuidado...


Agora meu coração está desprotegido, desabitado,
Vulnerável, solicito e numa terra sedenta. O tempo é de chuva,
As águas costumam trazer todo tipo de fragmento,
Não tenho recursos para guardá-los longe do meu pensamento.


E eu, muitas e muitas vezes, tentei mantê-lo a salvo aqui dentro,
Pois sei que, a vida frutífera busca tanto as chuvas como sol,
Silenciosa, partilho o nascer do sol com meu sofrimento,
Ficou a sensação de tempo perdido, de felicidade adiada,


E isso é tudo! Tudo que ficou em mim, neste momento e, mais Nada!

Silviah Carvalho


quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Cristal Quebrado



Fim dos sonhos.
E essa dor que não passa,
Por que tem que chegar ao fim,
Algo que mal começou?
Tanto amor, tanta ilusão,
E o que faço com esse coração
Que não quer te esquecer?
...Essa esperança que não morre
Ah! Essa esperança, não quer morrer!
Era tão perfeito esse amor... Era perfeito,
Mas, como um pássaro abandona o ninho,
Você voou para outros braços,
Deixando em pedaços meu coração,
Como um cristal que caindo ao chão,
Torna-se em minúsculos grãos,
Quase como de areia,
Assim está o meu coração.
... Se ao menos pudesse juntar os pedaços!
Reconstruir minha história,
Já não estaria sofrendo,
Mas essa dor parece não ter fim,
E esse cristal quebrado, esmiuçado,
É tudo que restou de mim.


Silviah Carvalho

sábado, 4 de setembro de 2010

A excelência do Amor


Meu ambiente é determinado pelo o amor,
Me entrego resignada a descobrir seus mistérios
Desfaço-me em palavras para justificá-lo,
Na tentativa de entender seus critérios

Nada se nega ao amor, das mais belas palavras
Às mais dolorosas lágrimas, tudo é dele e por ele
As feridas da alma nascem por falta dele
E por ele também são cicatrizadas

Não escolhemos o amor ele nos escolhe
Sofrer ou não exige perspicácia, experiência
Domemos o coração com sabedoria
Pois, o amor reina sobre tudo e por excelência

Quanto mais o estudo, menos aprendo
O amor me atrai e torna maduro o meu poder
Conhecendo suas manhas e artimanhas
Sei em que ponto parar, antes de começar a sofrer

O tropeço pode estar no domínio da mente
... Sinto-me assaltada por perplexidades
Indagações que não sei responder, diz-me
O amor é um ser próprio e independente!?

Quisera eu ser capaz de responder este clamor
Mas nos meus conflitos sou treinada a não ser instrutor (a)
Sei que todo ser, um dia será experimentado e açoitado
Pela intensa tempestade chamada Amor.

A minha alma prospera na liberdade que chamo de prisão
Já bebo a dose certa do sentir, do querer, do desejar...
Nunca me embriago com o fraco cálice da paixão, mas o sirvo
Com prazer a quem fizer nascer, esse “amor” em meu coração


Silviah Carvalho




quinta-feira, 2 de setembro de 2010

ESPERANÇA (?!). Miguel Russowsky/SC

Esperança!... Não falhes, vem comigo!
Tu que és capaz de colorir o vento,
vem! – te peço - adoçar meu pensamento
com os favos de mel do amor antigo!


Esperança! Não deixa o desalento
se intrometer nesta ilusão que abrigo.
Não ponhas aqui dentro este inimigo
chamado:- “ Não te quero!” - não o aguento.






Esperança !... Perfuma meu agora
com a certeza que nuca se evapora
uma promessa feita à luz da lua.

Esperança!... Ó mentira deliciosa!
tu que anulas espinhos de uma rosa,
me faz, mais vez ouvir..: - Sou tua!


Fonte: Pavilhão Literário Singrando Horizontes